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2016/30/09
Publicações Económicas

Panorama - América Latina: Por que as exportações não deslancham?

Panorama - América Latina: Porque as exportações não deslancham?

O comércio exterior provavelmente não será o principal contribuinte para o crescimento das economias da América Latina nos próximos anos.

Até 2014 as exportações da América Latina foram impulsionadas pelo vasto apetite Chinês por matérias primas e pelo aumento de preços internacionais. Os recursos naturais abundantes na região proporcionaram ganhos econômicos durante o próspero período das commodities. No entanto, esta tendência também resultou na apreciação da taxa de câmbio para muitos países da região, reduzindo a competitividade da indústria de manufatura.

Mas no geral, os países falharam em não aproveitar do próspero período das commodities para realizarem as reformas necessárias. Agora diversos desafios continuam, mas as receitas dos governos diminuíram. Os seguintes problemas podem comprometer o desempenho no curto e médio prazo:

 

  • Não haverá melhoras significativas na competitividade dos preços, devido as recentes valorizações das taxas de câmbio e sem reduções nos custos trabalhistas;
  • Não é esperado crescimento expressivo da atividade global em um futuro próximo;
  • Superar os gargalos de infraestrutura será difícil, assim como os escândalos de corrupção e a falta de um quadro regulatório bem definido
  • O protecionismo tem aumentado globalmente e o desenvolvimento de novos acordos comerciais com zonas importantes parece improvável.

 

Setor de manufatura: Desempenho franco nas últimas duas décadas, com predominância de produtos simples.

A evolução das exportações de manufatura nos seis países analisados mostra um aumento em termos de volume.  Em geral, a evolução das exportações primárias foram mais importantes que a evolução dos produtos manufaturados. A predominância de exportações de matéria prima em alguns países é devida principalmente ao aumento de preço das matérias primas (ocorrido até meados de 2014), acompanhado da valorização real da taxa de câmbio, aumento salarial e em alguns casos, mais impostos. Tudo isso afetou a competitividade das manufaturas ao longo das últimas décadas. 

As exportações de manufatura não tiveram aumentos significativos em termos percentuais de PIB. A contribuição das exportações de produtos manufaturados para o PIB aumentou em quase todos os seis países, mesmo que esta tendência pareça ter sido revertida em 2015. No México, o único país da região aonde as exportações de manufatura são predominantes, a participação no PIB subiu para 27% em 2015 contra 19% em 2005. Nas outras economias as exportações de manufatura representaram menos que 5% do PIB em 2015.

 

A evolução das exportações de produtos manufaturados se manteve relativamente estável frente aos movimentos de câmbio. Os países da região dependem fortemente das exportações de commodities, enquanto a representatividade das commodities no total das importações normalmente não é alta.  A forte contração dos preços internacionais de bens primários que iniciou em 2014, foi seguida de desvalorizações por pressões cambiais.

 

Mas por que as exportações não deslancham? 

  • Custos trabalhistas: Salários reais tem um papel determinante na competitividade dos produtos, já que normalmente os custos trabalhistas representam muito na estrutura de custo das empresas. No Brasil e na Argentina, os salários mínimos têm aumentado sistematicamente acima da produtividade.
  • Infraestrutura precária: A infraestrutura precária da América Latina é um problema já conhecido, mas que infelizmente não foram melhorados no período próspero das commodities. Esse aspecto é um dos fatores que pode impedir a recuperação das exportações. A complexidade e a burocracia das exportações também estão restringindo as atividades de manufatura.
  • Acordos comerciais limitados: Ao longo das décadas passadas, o Mercosul teve sucesso apenas na negociação de dois acordos – ambos com países de baixa importância, em termos de volume de negócios. Até mesmo os países da Aliança do Pacifico, que foram mais eficientes em negociar alianças, falharam ao tentar alcançar maiores exportações de manufaturas.

 

Exportação de manufaturas: Sem perspectivas de bom desempenho em um futuro próximo.

É pouco provável que a competitividade de preços melhore significativamente, devido às valorizações recentes nas taxas de câmbio e os altos custos trabalhistas. Não existem evidências de casos em que a forte depreciação da taxa de câmbio na região tenha sido seguida por um aumento na exportação de manufaturados.

Outro aspecto importante é que a retomada da atividade global não deve ocorrer em futuro próximo, limitando a demanda internacional por produtos manufaturados. A Coface estima que o PIB nas economias avançadas irá aumentar em 1.6% em 2016 e 2017 (caindo de 1.9% em 2015). Nos mercados emergentes, a expectativa de crescimento do PIB é de 3.7% este ano e 4.2% em 2017, acima dos 3.4% registrados em 2015. A expectativa é que a atividade na China continue em desaceleração gradual.

A resolução dos problemas de infraestrutura é crucial para alavancar a produtividade das mercadorias, reduzindo os custos de frete. Parceiras publico-privadas estão sendo incentivadas pelos governos locais, embora os investidores continuem cautelosos por conta da situação deteriorada no ambiente de negócios.

Atualmente, o ambiente político-econômico global esta menos favorável a abertura de mercados, aumentando o protecionismo e dificultando o crescimento das exportações.

“No geral, os países falharam ao não aproveitar o período de bonança das commodities para implementar as reformas necessárias. Agora os desafios continuam, mas a receita dos governos diminuíram”, comentou Patricia Krause, economista da Coface para América Latina.

Em resumo, a Coface prevê que as exportações de manufaturados continuarão fracas em um futuro próximo. Mesmo em 2017 uma recuperação é improvável, embora que, com o aumento gradual na demanda mundial, os preços das commodities possam apresentar uma pequena melhora.

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