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2017/07/11
Publicações Económicas

Relação China - África: O casamento por conveniência irá durar?

Relação China - África: O casamento por conveniência irá durar?
As ambições da China e da África subsaarianas: Ainda é necessário esforços para reequilibrar as relações bilaterais.

 

Quase vinte anos depois do lançamento do primeiro Foro de Cooperação entre China e África as relações entre ambos os países permanecem desequilibradas. O comércio bilateral aumentou nos últimos 10 anos (um total de $ 123 bilhões de USD em 2016), desde seu ponto máximo.
Agora a região conta com um déficit comercial com a China. Enquanto as exportações permanecem concentradas principalmente em recursos naturais (90% das exportações para a China), as importações se encontram mais diversificadas e incluem bens manufaturados, equope de transportes e maquinários (51% do total) à frente de minerais e metais preciosos. Este desequilíbrio comercial também reforça o risco da "síndrome holandesa" [1] que, em economia, está ligada ao declínio do setor industrial local para o desenvolvimento econômico das matérias-primas.

A desaceleração da economia chinesa e a reorientação de seu modelo de crescimento através do consumo privado refletem-se em uma fraca demanda de commodities provenientes da África. Isso terá consequências inevitáveis para os exportadores. De acordo com os cálculos dos economistas da Coface, a África subsaariana teve um nível consideravelmente mais elevado de dependência das exportações do que outros países emergentes em 2016, com uma escala de 0 a 1, a África subsaariana mantém 0,24 em comparação com 0,16 para o Sudeste Asiático, um dos principais parceiros comerciais da China, e 0,19 para a Rússia, Brasil e Índia. O diferencial é ainda maior com a União Europeia (0,07) e os Estados Unidos (0,12).

 

Obviamente, os países que se beneficiaram mais com a expansão da China e aqueles com uma economia menos diversificada são aqueles que provavelmente sentirão os efeitos de uma forma mais acentuada, de menor demanda. A forte dependência comercial se concentra em torno da exportação de petróleo bruto e de acordo com o índice estabelecido pela Coface, o Sudão do Sul ocupa o topo do ranking desde sua independência, que foi declarada em 2011, seguida de Angola e Congo. A Gâmbia, que produz madeira, não está longe. Eritréia, Guiné e Mauritânia também estão entre os países mais dependentes devido às exportações de minerais metálicos (ferro, cobre e alumínio).

 

Diversificação, a palavra chave para uma relação “ganha-ganha” sustentável.

 

Apesar desta forte dependência das exportações para a China, a relação China-África poderia se transformar em cooperação "ganha-ganha". A cesta de exportação da África está gradualmente diversificando, incorporando um alto valor agregado em matérias-primas processadas, madeira bruta e, em menor quantidade alguns produtos agrícolas (tabaco, frutas cítricas, grãos e frutos oleaginosos), alinhados às necessidades da classe média emergente da China. Mesmo que uma mudança mantenha a vulnerabilidade dos países ricos em commodities à evolução dos preços internacionais, isso poderia aumentar as receitas locais e incentivar o emprego e as transferências de tecnologia.

 

A diversificação também inclui fluxos de investimento estrangeiro direto e empréstimos da China. Os investimentos chineses na África não são mais extrativos por natureza e agora se estendem a serviços, indústrias de transformação, transportes e serviços públicos. Existem iniciativas, como a One Belt, One Road [2], que, em última instância, impulsionará a conectividade regional e reduzirá os custos de exportação.

No entanto, uma vez que os fluxos de investimento estrangeiro e financiamento são muito menores do que os fluxos comerciais, os países africanos são altamente dependentes da China, permanecendo altamente vulneráveis devido à fraca demanda ou a uma maior redução nos preços das commodities. Do mesmo modo, o risco dos governos africanos acentuaria sua vulnerabilidade às mudanças na política externa da China e suas demandas derivadas dos interesses chineses que existem nesta região, principalmente com base em uma rede complexa de objetivos políticos e econômicos.

"Os últimos desenvolvimentos parecem avançar na direção certa, mas ainda é necessário fazer esforços para passar de um casamento de conveniência desequilibrada para uma sociedade baseada em uma cooperação vantajosa", disse Ruben Nizard, economista da Coface responsável pela região da África e co-autor deste estudo.

 

 

 

 

[1] A doença holandesa, ou síndrome holandesa, é um termo usado em economia para identificar as consequências negativas que um país sofre quando experimenta crescimento inesperado em seus ganhos cambiais. Este problema geralmente está associado à exploração de recursos naturais, recursos descobertos, explorados e exportados, que em pouco tempo podem significar grandes receitas para o país, mas a renda tem um efeito negativo nos outros setores produtivos que não a exploração do recurso natural causando o "problema"

 

[2] As iniciativas One Belt, One Road, é o nome que é conhecido projeto político-econômico proposto em 2013 pelo presidente da China, Xi Jinping. Sob a premissa de que "há mais de dois milênios atrás, as pessoas diligentes e corajosas da Eurásia exploraram e abriram novas avenidas de intercâmbio comercial e cultural que uniram as principais civilizações da Ásia, Europa e África, coletivamente chamadas de Estrada da Seda para gerações posteriores"

 

 

 

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