Notícias & Publicações
2022/21/06
Publicações Económicas

Barômetro Risco-País e Setorial - 2°Trimestre 2022

Uma recessão para evitar a estagflação?

Quatro meses após o início das hostilidades na Ucrânia, as primeiras lições podem ser tiradas: o conflito, que não tem previsão para terminar, já perturbou o equilíbrio geoeconômico global. No curto prazo, a guerra está agravando as tensões de um sistema de produção já afetado por dois anos de pandemia e está aumentando o risco de declínio iminente no crescimento econômico em todo o mundo: enquanto a economia parecia enfrentar a ameaça da estagflação há algumas semanas, a mudança de tom dos bancos centrais, face à aceleração da inflação, ressuscitou a perspectiva de recessão, sobretudo nas economias avançadas.

Em função deste cenário complexo, a Coface rebaixou a avaliação de 19 países, incluindo 16 na Europa – destacando-se Alemanha, Espanha, França e Reino Unido – e aumentou apenas 2 avaliações (Brasil e Angola). A nível setorial, o número de rebaixamentos (76 no total, em comparação a 9 aumentos) demonstra a propagação destes impactos sucessivos em todos os setores, tanto os energo-intensivos (petroquímica, metalurgia, papel, etc.) como aqueles mais diretamente ligados ao ciclo de crédito (construção).

À medida que as perspectivas pioram, os riscos assumem naturalmente uma postura baixista e nenhum cenário pode ser descartado.

 

A desaceleração da atividade e o risco de estagflação estão se tornando mais claros

Na maioria das economias desenvolvidas, os números de crescimento do primeiro trimestre ficaram abaixo das expectativas. Além disso, o PIB na zona do euro teve um aumento tímido pelo 2º trimestre consecutivo, com uma queda de -0,2% na França. Isso pode ser explicado pela queda do consumo doméstico em um contexto de diminuição do poder de compra. A atividade também recuou nos Estados Unidos, prejudicada pelo comércio exterior e pelas dificuldades de reposição de estoque da indústria manufatureira. Estes números se tornam mais preocupantes à medida que as consequências econômicas da guerra na Ucrânia começam a ser sentidas. Considerando a aceleração da inflação, o declínio das expectativas dos agentes e o aperto das condições financeiras em todo o mundo, o cenário no segundo trimestre não parece muito promissor para a atividade nas economias avançadas, e bem menos favorável nas economias emergentes. Embora seja provavelmente muito cedo para afirmar que a economia global entrou em estagflação, todos os sinais apontam para isso.

 

Maior pressão sobre o preço dascommodities

Embora o preço das commodities tenha se estabilizado recentemente, ainda permanecem em níveis muito elevados. Por exemplo, o preço do petróleo não ficou abaixo de US$ 98 desde o início da guerra, uma vez que os receios de uma potencial escassez de oferta ainda são uma possibilidade. Esse contexto é favorável aos exportadores de commodities e, especialmente, de petróleo. As duas únicas avaliações aumentadas pela Coface dizem respeito ao Brasil e Angola, e as reclassificações setoriais englobam principalmente o setor energético dos países produtores, enquanto os rebaixamentos setoriais contemplam o setor energético nos países onde as empresas estão localizadas a jusante da cadeia produtiva (principalmente na Europa).

 

Da mesma forma, os setores cuja cadeia de valor é energo-intensiva em seus processos produtivos, como papel, produtos químicos e metais, tiveram seus riscos reavaliados para cima. O setor agroalimentar é uma das industrias com maior número de rebaixamentos neste trimestre, afetando quase todas as regiões.

 

Por fim, é provável que as empresas que não repassaram integralmente o aumento de seus custos de produção para seus preços de venda continuem a fazê-lo. Assim, os aumentos de preços continuarão em setores com poder de precificação significativo. É o caso do setor farmacêutico, onde um pequeno número de empresas domina o mercado global. Já identificado como um dos mais resilientes, é o único setor com avaliações de ‘baixo risco’ em nosso barômetro.

 

Bancos centrais com os dois pés no freio

O Banco Central Europeu (BCE) endureceu sua postura aos poucos, seguindo o exemplo da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) e do Banco da Inglaterra, a ponto de anunciar antecipadamente seus futuros aumentos de juros. Assim como os outros grandes bancos centrais (exceto o Banco do Japão), o BCE não tem outra escolha a seu alcance, a não ser reforçar significativamente a sua guarda, apesar dessa alternativa poder desencadear uma desaceleração drástica da atividade e alimentar os receios de uma nova crise das dívidas soberanas europeias.

 

Neste cenário de aperto das condições de crédito, o setor da construção parece ser um dos mais vulneráveis. Espera-se que o aumento dos custos de empréstimos afete o mercado imobiliário e, em último caso, a atividade de construção. Isso pode ser observado nos EUA, onde as vendas de imóveis estão sofrendo quedas bruscas.

 

Tempo ruim é esperado para 2023

Com o declínio drástico no cenário econômico e financeiro, a Coface rebaixou a avaliação de 16 países do continente europeu, incluindo todas as principais economias – com exceção da Itália, já avaliada como A4.

 

Nosso cenário central sugere uma desaceleração significativa da atividade nos próximos 18 meses, permitindo que a inflação diminua gradativamente. Nossas previsões de crescimento são particularmente pessimistas para os países avançados. Existem muitos riscos negativos para a economia global, enquanto os riscos positivos referentes à inflação permanecem. Para conter a inflação, os bancos centrais parecem decididos a empurrar a economia para uma recessão. Espera-se que essa recessão seja mais branda, uma vez que a queda contínua dos preços forçaria os bancos centrais a implementar um choque monetário mais drástico posteriormente. O risco, que não pode ser descartado, é que a demanda caia e a inflação permaneça alta, devido à impossibilidade de reduzir os preços das commodities em razão da escassez crônica de oferta.

 

 

Transferir esta publicação : Barômetro Risco-País e Setorial - 2°Trimestre 2022 (4,96 MB)

Contacto


Brazil

Carolina ALMEIDA
Tel: +55 115509-8521
Email: carolina.almeida@coface.com

Início