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2022/03/05
Publicações Económicas

Guerra na Ucrânia: muitos (e grandes) perdedores, poucos e (verdadeiros) ganhadores

Photo of a yellow gas pipeline with additional equipment, pipes and a valve to shut off the gas supply. Against the background of blur is an image of gas compressor station

Mais de dois meses após o início das invasões na Ucrânia no dia 24 de fevereiro, e a pesar de várias tentativas de negociação, as possibilidades de uma rápida solução para a guerra parecem cada vez mais improváveis. Desde o momento no qual o conflito se intensificou, as sanções impostas pelo ocidente mirando a Rússia foram se acumulando, chegando a um ponto onde foram ao total 5 ondas de sanções impostas pela União Europeia desde o início da guerra e possivelmente muito em breve escutaremos de uma sexta onda.

Neste mesmo contexto, é totalmente ilusório imaginar que estas mesmas sanções sejam rapidamente revogadas e que a situação volte a estar como estava antes da guerra, mesmo que um acordo de paz seja feito entre Rússia e Ucrânia. Em termos de consequências econômicas, nos revisamos a nossa estimativa inicial (publicada no início de março) sobre as estimativas de custo de curto prazo para a economia global (um ponto percentual para o ano de 2022).

 

Em um forte e persistente ambiente adverso, a guerra na Ucrânia terá poucos ganhadores, porém, muitos perdedores. A importância dos beligerantes – principalmente na Rússia, mas também na Ucrânia e Bielorrússia – na produção de várias commodities e o medo de uma ruptura nos abastecimentos, fizeram com que os preços fossem elevados, que apesar de que tiveram uma recente queda, continuam a níveis altíssimos. As pressões inflacionarias, já prevalecentes na maioria das regiões, são assim exacerbadas, levando então a uma decaída na renda disponível das famílias e por consequência, em seu consumo, já que o ambiente com alta indução de ansiedade e incerteza encoraja a aplicação da economia preventiva. A volatilidade e a incerteza também são fatores de peso em decisões de investimento de empresas cuja situação financeira, apesar dos altos recordes de liquidez, apontam a uma provável e significativa deterioração à medida que os custos de produção aumentem ou prevaleçam elevados.

 

Além das economias da Europa Central e Oriental, que mantem vínculos econômicos e fluxo comercial com a Rússia, os países da Europa Ocidental são os mais expostos devido a sua alta dependência dos combustíveis fosseis russos. Embora a onda de choque seja sentida de maneiras diferentes e em momentos de igual modo diferentes, nenhuma região será poupada da inflação importada, das interrupções no sistema de abastecimento e da consequente morosidade do comercio global. Portanto, estimamos que Estados Unidos também será significativamente e negativamente impactado, onde o Fed. será forcado a realizar aumentos nas taxas de juros, e assim por consequência afetando o resto do mundo. Como em qualquer redução monetária significativa por parte da Fed., a maioria dos mercados emergentes seguirá o exemplo para evitar a fuga de capital e a depreciação cambial – especialmente aqueles países que contam com grandes déficits em sua conta corrente e ou elevada dívida externa de curto prazo.

 

Além disso – e como já mencionamos em nosso Barômetro de Julho de 2021 – o risco político havia aumentado significativamente com a pandemia: e este problema permanecerá mais evidente que nunca, pois as dificuldades de abastecimento e a elevação dos preços alimentarão o aumento de tensões sociais.

Vale a pena mencionar que o balanço de riscos está claramente tendendo para baixo, já que os ventos de proa estão se acumulando, principalmente com o ressurgimento de casos de COVID – 19 na China o que além de alimentar as pressões inflacionarias globais, também, fará o mesmo com as rupturas nos sistemas de abastecimento. Neste mesmo contexto as escolhas feitas pelas autoridades monetárias serão provavelmente tão difíceis quanto cruciais, em um ambiente que combina décadas de inflação alta, necessidade de manobra fiscal, e níveis muito elevados de dívida pública e privada. Como as consequências do confronto entre Rússia e Ucrânia se materializarão principalmente a partir do segundo semestre de 2022, elas afetarão obviamente os números de crescimento do PIB 2022, porém, ainda mais os de 2023 e mais além – perspectivas a longo prazo que o nosso Barômetro cobrirá. Em outras palavras, é possível que as cicatrizes sejam realmente profundas, além das perdas humanas, as consequências econômicas desta nova guerra em solo europeu, serão sentidas durantes anos após o fim da mesma. Embora ainda seja muito cedo para dizer como a economia se redesenhará após os sucessivos acontecimentos do início de 2020, a perspectiva que temos desde o início da pandemia segue igual; o mundo mudou e nada será sempre o mesmo.

 

 

 

 

 

 

 

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