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Coface Risk Review - Junho de 2025: O grande salto para trás

Em um contexto de incerteza geopolítica e comercial sem precedentes, a economia mundial navega entre uma desaceleração prevista e riscos de escalada. As decisões tarifárias de Trump e as tensões no Oriente Médio estão reconfigurando um cenário econômico imprevisível para 2025-2026. Nesse ambiente, e tendo em vista as medidas já adotadas, a Coface rebaixou a classificação de 23 setores e 4 países.

Principais tendências:

 

Economia mundial: a incerteza é a nova normalidade

As perspectivas econômicas mundiais estão mais incertas do que nunca, pois dependem em grande parte dos acontecimentos (geo)políticos e das decisões comerciais do presidente dos Estados Unidos. A reintrodução das tarifas após os períodos de suspensão de 90 dias (9 de julho para o resto do mundo e 12 de agosto para a China) poderá ter um impacto significativo no crescimento mundial. Espera-se uma desaceleração acentuada (2,2% de crescimento em 2025 e 2,3% em 2026), com riscos principalmente em baixa: não se pode descartar um crescimento inferior a 2% se as situações geopolíticas e comerciais se agravarem.

A mesma incerteza envolve, naturalmente, a inflação, cuja estabilidade atual pode ser comprometida. Ela pode atingir 4% nos EUA no final de 2025, com riscos mais generalizados de alta caso os preços da energia subam. É provável que os principais bancos centrais respondam com uma postura cautelosa. No entanto, se a inflação nos EUA for controlada, o Fed poderá reduzir as taxas já no outono de 2025. O BCE anunciou que manterá sua política de cortes nas taxas, mas acrescentou que está próximo de sua taxa terminal.

A incerteza é ainda maior na Europa, uma vez que as políticas de consolidação fiscal, há muito adiadas, podem finalmente começar a ser implementadas, enquanto a Alemanha se lançou num programa de estímulo cuja magnitude é difícil de avaliar neste momento.

 

Tensões no Médio Oriente e excesso de oferta: o equilíbrio do petróleo, na corda bamba

O conflito entre Israel e o Irã reacendeu os temores sobre o petróleo. Uma interrupção ou mesmo um bloqueio do estreito de Ormuz (por onde passam 20 milhões de barris por dia, ou seja, 20% do abastecimento mundial) poderia empurrar os preços para mais de US$ 100 por barril.

No entanto, à margem deste contexto geopolítico, os fundamentos apontam para uma queda dos preços devido ao aumento da produção nos países não pertencentes à OPEP+, ao enfraquecimento da demanda devido às tensões comerciais e à reintrodução de volumes por parte dos membros da OPEP+ (2,2 milhões de barris por dia). A menos que ocorra uma crise importante, os preços devem continuar extremamente voláteis, mas dentro de uma faixa entre US$ 65 e US$ 75 por barril.

Economias avançadas: uma mistura de resiliência e vulnerabilidade

A economia americana enfrenta duas incertezas: a magnitude das tarifas alfandegárias e como elas serão absorvidas pela economia. Apesar da queda na confiança dos consumidores, o emprego se mantém e a contração do PIB (-0,2% no primeiro trimestre) reflete o estoque preventivo das empresas.

Na Europa, a Alemanha registrou uma ligeira recuperação do crescimento no primeiro trimestre, a França continua estagnada, a Itália pode perder impulso, enquanto a Espanha continua se beneficiando do turismo e dos fundos europeus para manter o ritmo.

 

As economias emergentes são as primeiras vítimas das turbulências comerciais

Na China, a trégua temporária nas tarifas provocou uma recuperação das exportações, mas as perspectivas são frágeis. A Índia, apesar de ter registrado um crescimento superior a 7% no primeiro trimestre, está passando por uma desaceleração do consumo e uma redução de sua margem de manobra fiscal.

Na América Latina, o México é o país mais afetado pela incerteza comercial, com um crescimento previsto de 0% em 2025. O Brasil, após a recuperação da agricultura após as perdas causadas pelo El Niño, deverá contrair-se devido à política monetária restritiva (aumento da taxa de juros de referência para 15%). Na Argentina, o impulso gerado pela “Mileñomics” é forte e, apesar das baixas reservas cambiais, o país poderá registrar um crescimento do PIB de 5%em 2025 e de 3,5%em 2026.

 

Metalurgia: 600 milhões de toneladas de excesso de capacidade siderúrgica pesam sobre o setor mundial

O setor metalúrgico atravessa uma grave crise, após registrar em 2024 um excesso de capacidade siderúrgica mundial de 600 milhões de toneladas, o que representa 25% da produção mundial. O ambiente macroeconômico desfavorável, as tensões energéticas e as novas tarifas sobre o aço agravam a situação das siderúrgicas, especialmente no Canadá, México e Europa.

 

Canadá: economia vacila sob o peso das tarifas

Com 75% de suas exportações destinadas aos Estados Unidos, o Canadá é um dos países mais expostos à guerra comercial. O crescimento desacelerou significativamente após a recuperação registrada no final de 2024. O consumo está caindo, os investimentos estão enfraquecendo e o desemprego está em 6,9%, o nível mais alto desde 2017.

As exportações, impulsionadas pela ameaça das tarifas, contraíram-se fortemente em abril. Os setores automotivo e metalúrgico, afetados por aumentos tarifários de até 50%, foram especialmente atingidos. A próxima revisão do acordo USMCA, prevista para o final de 2025, poderá agravar ainda mais a instabilidade econômica do país.

 

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